A Nível de Myself

sábado, dezembro 24

Puta Que Pariu

Você provavelmente já foi a parques de diversões, não é? Andar de montanha-russa, ficar de cabeça pra baixo naquele outro brinquedo lá, despencar de 700 andares de altura com aqueles elevadores... Tudo isso pra quê? Pra sentir um pouco de frio na barriga. Adrenalina, emoção, tensão, perigo. Não é isso que as pessoas querem? Se realmente for, eu acabei de inventar um modo de ficar rico muito rápido: forjar assaltos à mão armada em domicílio. Porque, puta merda, isso é que é sentir medo.

Sim, amiguinho(a), isso aconteceu comigo hoje. Dois ladrões entraram na casa e renderam toda a família no quarto da Érika e da irmã dela. Um ficou "cuidando" da gente, enquanto o outro fazia a limpa. O pessoal aqui tá traumatizado, e olha que nem foi tão ruim assim. Acabaram levando "só" uma TV, um ou dois aparelhos de DVD (um estava quebrado e o outro era daqueles baratinhos), dois celulares e um carro (mas está no seguro), além de uns pertences pessoais do Ricardo (irmão da Érika), que estavam dentro do carro. Na verdade isso foi o pior de tudo: o cara tava em vias de tirar documentação pra viajar em janeiro, e agora perdeu todos os documentos. É foda.

Mas os bandidos, ah, os bandidos não fizeram feio. Pena que eles não deixaram cartão de visita, senão recomendava pra eles irem assaltar vocês. Sério! Eles manjam muito de assalto. O primeiro deles foi lá me acordar (eles entraram às 6 da manhã) super delicadamente, sussurrando "Ow, fica calminho-aê e me segue que isso é um assalto. Mas pode ficar de boa, na calma." E eu, "Ah, então tá."

Quando eu cheguei no quarto da Éri todo mundo já estava devidamente sentadinho na beira da cama, com cara de assalto. Talvez porque fosse realmente um assalto, vai saber. Eu fui o último. Viu só como eles são gente boa? Me deixaram tirar um cochilo um pouco maior antes de ser assaltado. Fico comovido com tanta generosidade.

Enquanto o que me acordou saía pela casa procurando o quê roubar, o colega dele ficou lá com a gente, tranquilizando, falando que eles até então só haviam matado "duas vítima", mas que "nem foi por vontade, não, foi porque precisou". Ah, então tá... isso acalma bastante. Ficou conversando sobre como o governo é injusto, e que por isso é que eles precisavam roubar, porque a gente era mais afortunado do que eles "nunca ia conseguí sê". Comentou que queria aprender a tocar violão - com o violão da Érika, claro, que ele já estava se preparando pra ensacolar. Continuou, dizendo que ia levar uns bichinho de pelúcia pra favela, "pra dá pras menininha pobre", falou que não queria dar "revorvada" na gente... enfim. Um verdadeiro gentleman da favela.

Quis até levar o meu barbeador, o rapaz! Imagina, se eu perco aquela maquininha, ano que vem teremos um Papai Noel de 20 anos, com barba genuína.

No fim das contas nem conseguiu levar esses "pormenores", já que o parceiro dele (que provavelmente come o cu do infeliz, afinal, só isso explicaria tamanha obediência por parte do mesmo) não deixou ele passar a mão nos trecos.

- Ah, deixa....
- Não.
- Por favooooor...
- Não.
- Seu... seu... chato-bobo-feio!
- Não. E engole o choro.

Enfim... fui assaltado. Todo mundo já foi, né... eu já tava me sentindo excluído.

* * *

Ah, eu consegui um emprego também. Isso ia ser o tema desse post, mas eu gostei tanto dos manos que resolvi homenagear o trabalho deles antes.

No post que vem eu falo sobre o emprego.