A Nível de Myself

quinta-feira, outubro 20

À Prova d'Água

Uma coisa que eu me lembro muito bem é de, quando criança, ter estragado três relógios. Os três foram presentes. E eu também me lembro muito bem de não ter sentido nenhum remorso, de não ter me sentido nem um pouco mal por ter estragado os presentes que me deram. Não que eu fosse uma criança má, é só que todos os relógios vinham com a frase "Water Resist", bem grande, impressa na embalagem, e eu já sabia inglês suficiente pra saber que aquilo significava "à prova d'água". Como eu ia me sentir mal por tê-los estragado se tudo que eu fazia era tomar banho, sair na chuva e ficar na piscina com eles? Ora, era obrigação deles se manterem funcionando! A culpa não era minha.

E desde que eu estraguei o primeiro dos três relógios dessa maneira, meu pai já me deixou bem avisado. "Dessa vez não vá colocar o relógio na água de novo, guri!" Mas que culpa tinha eu se os próximos relógios viriam com a mesma frase impressa na embalagem - e com letras ainda maiores?

Não tem jeito, é assim que eu sou. Eu acredito no mundo, acredito nas leis, nas regras. Se bobear, acredito até na mais utópica das coisas: a política brasileira funcionando.

Mas por que eu estou dizendo isso? Porque eu preciso seguir essa linha de raciocínio de novo.

Desde que eu cheguei aqui em São Paulo, todas as vezes que a frase "parece que as coisas estão melhorando/vão melhorar" ou qualquer uma das suas muitas variações foi dita, seja por mim ou pela Érika, alguma merda aconteceu. Alguma coisa desandou. Tanto que a gente, mesmo sem tocar muito no assunto, quase combinou de nunca mais falar nada quando as coisas estiverem melhorando. Mas, poxa, será que não é ainda pior? A vida tem mesmo seus altos e baixos. Será que não é nosso dever sobreviver aos baixos e comemorar os altos, assim como era dever do relógio "sobreviver" à água?

Então, foda-se. Aconteça o que acontecer, eu estou pronto. Lá vai:

As coisas estão melhorando.