A Nível de Myself

segunda-feira, janeiro 31

Imagine

Vamos fazer um exercício de imaginação.

Esvazie um pedaço da sua mente, por favor. Obrigado. Agora imagine uma sala quadrada, de mais ou menos cinco metros de lado. É, uma sala cinco por cinco. Ou menor, talvez. O chão é quadriculado em preto e branco, exatamente como um tabuleiro de xadrez com casas de mais ou menos trinta centímetros. Das paredes você pode escolher a cor, mas tenha em mente que elas têm pedaços de reboco aparecendo, mas é de propósito. Para dar estilo, sabe? Uma das paredes dessa sala quadrada (e alta, esqueci de dizer) é coberta por uma cortina vermelha daquelas de teatro. Mas ela também é só pra dar estilo, já que atrás da cortina só tem mesmo a parede. Na parede oposta a esta você deve imaginar uma pequena cabine de vidro em um dos cantos, e no outro, a entrada dessa sala. Sim, é uma cabine de DJ. O chão junto à parede da cortina é mais alto. Algo em torno de meio metro mais alto, formando um degrau. Sim, é um palco. Aproveite para imaginar caixas de som da Marshall e da Meteoro nos cantos e no meio do palco, pedestais de microfones, guitarras e um baixo recostados na parede, cabos e pedais no chão e uma bateria amarela no canto direito. Um globo de discoteca no centro do teto e luzes, muitas luzes fortes e piscantes completam o ambiente. Fumaça também. Bastante, e daquelas que fazem o olho arder um pouco depois de um tempo.

Ok, este é o lugar. Agora complete com uma pessoa usando fones de ouvido dentro da cabine do DJ e acrescente quantas pessoas quiser dentro da sala, na pista, dançando. Imagine as luzes piscando ritmicamente e belas canções de rock tocando no volume máximo. Blur, Placebo, White Stripes, Ludov, Cachorro Grande... Weezer. Imagine quantas quiser.

O palco ainda estava vazio, mas eu estava lá, bem na frente, no meio. Eu e ela. Sim, leitor, agora eu devo pedir desculpas, mas eu estava te usando até agora. Usando a sua mente para que imagine exatamente o lugar e o momento em que eu me dei conta exatamente do quanto eu sou um cara de sorte. Porque foi nesse momento e nesse lugar com uma magia toda especial que eu me dei conta do quão sortudo eu sou. Lá estava eu, dançando de corpo colado com a minha namorada uma música que tinha um ritmo cinco vezes mais rápido do que o ritmo em que a gente estava dançando. Não é falta de ritmo, é só que a gente estava tão concentrado na gente mesmo que a música parecia apenas um detalhe. Tudo mais parecia só detalhes. Tudo isso que você, leitor, passou esse tempo todo imaginando, tornou-se mero detalhe. Mas só por um instante. Por que logo depois desse instante, foi como se eu tivesse acabado de nascer.

Comecei a ver tudo ao mesmo tempo. Todas as coisas que eu mais gosto estavam ali, na minha frente. A música o palco os microfones as pessoas o globo de luz as roupas as luzes as caixas de som da Meteoro as guitarras recostadas na parede os risos a bebida a garrafa de cerveja se espatifando na lata do lixo o DJ balançando a cabeça a bateria a banda entrando no palco o cheiro os olhos ardendo com a fumaça e ela. A Érika. A razão de tudo isso, a razão da minha vida ser assim, a razão de eu estar feliz desse jeito. Tudo que eu consegui fazer depois dessa overdose de sentimentalismo foi dizer foda-se para a música e dar o abraço mais apertado que a minha força conseguiu. Com a minha cabeça no ombro dela e essas coisas todas na minha cabeça, uma gota saiu do meu olho e caiu no ombro dela. Ela não percebeu.

Melhor assim. Ela só precisa saber que eu a amo.