Capítulo Um
Digam o que acharam!
Capítulo 1 - Alguém Morreu
Estávamos lá, o Thiago e eu, tranqüilos, conversando "nerdices" numa boa, quando aconteceu.
- Guenta aí, velho. Vou atender o celular.
"Beleza", respondi, e lá foi ele, até o canto da Lanchera, atender. Ele sempre atende o celular lá, no canto da Lanchera. Isso eu nunca entendi por quê. Ele podia muito bem atender na minha frente, né? Sei lá. Vai que ele tá escondendo alguma coisa de alguém... ou de todo mundo. Ou de si mesmo! Bom, que se dane. Isso não vem ao caso.
Ah, eu esqueci de explicar: "Lanchera" é o apelido carinhoso pelo qual a galera chama o Jorge Lanches, a cantina do colégio. Mas enfim, isso também não vem ao caso. Na verdade, vem menos ao caso do que o lance do Thiago ir atender ao celular lá no cantinho.
O que vem ao caso é a cara de pavor com a qual ele voltou.
- C-c-cara. Eu preciso ir, meu... O, a... O... O meu... Ah, deu merda, meu! Muita merda! Falou, fui nessa!
- Peraí, cara! Explica direito essa his... - nem perdi meu tempo terminando a frase. Ele já tava longe.
Mas eu fui atrás. O cara tava muito mal, parecia que tinha morrido alguém. Na verdade eu tinha praticamente certeza que alguém tinha morrido mesmo. E alguém muito importante. Você não viu a cara dele. Você só está vendo letras. Mas eu vi. Infelizmente.
Corri o mais depressa que consegui. Não ia conseguir alcançá-lo, porque ele também estava correndo como se fosse tirar o pai da forca. (Depois de pensar isso eu não pude conter uma risadinha pelo trocadilho infame de humor negro. Eu não sou malvado, mas não pude evitar a piada.) Seja como for, eu só desejava duas coisas. Que o meu trocadilho não viesse a se tornar real (eu ia me sentir péssimo, você sabe) e que ele não tivesse lembrado de pegar o atalho.
O atalho é um caminho alternativo que a gente fazia há anos atrás, quando ainda morávamos na mesma rua. A evolução das técnicas de construção civil, a gentrificação, a urbanização e todos esse processos que só servem pra dar dinheiro pra quem não merece e pra fazer do mundo um lugar pior para se viver, ao longo dos anos, foram fazendo do atalho um lugar cada vez mais inóspito. Foi ficando apertado e perigoso. Além de bastante fedorento. Alguns meses antes de eu me mudar para o bairro vizinho, a gente descobriu que o atalho tinha virado boca-de-fumo. Aí a gente decidiu não mais passar por lá. E desde então a gente (e mais tarde ele sozinho) faz um caminho diferente. Um pouco mais longo, mas bem mais seguro e tranqüilo. Mas isso já faz anos. A gente nunca mais tinha tocado no assunto, ninguém mais nem lembrava do atalho. Mas eu lembrei, sabe-se lá como, e torci para que ele não o tivesse usado. Porque era o meu único trunfo, minha única carta na manga. Se eu estivesse jogando Mario Kart, seria meu único Red Koopa Shell na última volta. Se eu quisesse alcançá-lo antes que ele chegasse em casa, eu precisaria passar por lá.
Minha sorte é que não eram nem onze da manhã ainda. Os traficantes que andavam por lá ainda não estavam lá, prontos pra “fazer negócio” com os chapados do colégio. Além do mais, do jeito que eu passei correndo por lá, se é que alguém me viu, com certeza pensou que eu estava correndo da polícia. E polícia ninguém quer por lá, então ninguém mexeu comigo. Sorte minha.
Assim que eu saí do atalho (já estava pensando em começar a chamar aquilo de “beco”, ao invés de “atalho”), olhando à esquerda, vi a casa do Thiago à uns duzentos metros naquela mesma rua. E, mais ou menos à mesma distância, mas à direita, um ser correndo que nem um desesperado. “Feito!”, pensei. Dei sorte.
* * *
Agora eu tô postando todo dia, religiosamente, vocês viram? O problema é que o número de comentários cai bastante e... eu não sou de ferro, né, pessoal? Eu gosto de comentários. E gosto que leiam o que eu escrevo. Então, caso você esteja a um certo tempo sem entrar aqui, faça uma forcinha e aprecie meus posts anteriores também. Valeu.
* * *
Eu tô viciado nesses asteriscos pra separar as coisas. Peguei do Pablog. Espero que ele não fique brabo. Vamos tomar por uma homenagem, ok?